terça-feira, 23 de setembro de 2008

Os horrores do capitalismo


Por estes dias, a esquerda radical, tem andado especialmente entusiasmada em denunciar os horrores do capitalismo e o “monstro” a que chamam neoliberalismo. Para muitos, a profecia marxista, de que o capitalismo entregue a si próprio, se devoraria, está a confirmar-se com a recente crise no sistema financeiro. O momento é portanto, de regozijo e inquietude. Imagino mesmo que na cabeça de muitos o fim do capitalismo esteja mesmo próximo. 

Perante os inúmeros posts que se vão lendo, parece que mundo é cada vez mais um lugar horrível, onde nunca se viveu tão mal. E se antes era a miséria de África, que fazia disparar os seus corações numa denúncia feroz aos males do capitalismo, hoje chega até mesmo a “Velha Europa”, agora vendida ao neoliberalismo, para denunciar ferozmente essa fonte de todos os males.

Por estes dias, de tanta denúncia (leia-se, propaganda), de indescritíveis horrores levados a cabo pelos Senhores do Capitalismo, recordo Orwel, citando um pequeno excerto de uma das suas obras mais célebres, “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”: 

“(...) Outrora (dizia o livro), antes da Gloriosa Revolução, Londres não era a bela cidade que hoje conhecemos. Era um povoado cinzento, sujo, miserável, onde quase ninguém tinha comida que chegasse e onde centenas, milhares de pobres, não tinham que calçar, nem telhado para se abrigarem. Crianças da tua idade eram obrigadas a trabalhar para patrões cruéis que as chicoteavam se trabalhassem demasiado devagar e as alimentavam a côdeas de pão duro e água. Mas no meio de toda esta terrível pobreza subsistiam umas quantas casas enormes, belíssimas, onde viviam homens ricos que chegavam a ter trinta criados para cuidarem deles. Estes homens ricos chamavam-se capitalistas. Costumavam ser gordos e feios, com cara de maus, como o da foto na página ao lado. Como vês, traz um casaco preto e comprido, a que chamavam casaca, e um chapéu esquisito, brilhante, em forma de chaminé, a que chamava cartola. Era este o uniforme dos capitalistas, mais ninguém podia usá-lo senão eles. Os capitalistas eram donos de tudo quanto há no mundo, os demais indivíduos apenas seus escravos. Donos da terra toda, de todas as casas, todas as fábricas, todo o dinheiro. Se alguém lhes desobedecesse podiam mandá-lo para a prisão, ou tirar-lhe o emprego, deixando-o morrer à fome. (...)” 

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