segunda-feira, 24 de março de 2008

A guerra contra o terrorismo no pós 11 de Setembro 2001

"Politics is not the art of the possible. It consists of choosing between the disastrous and the unpalatable."
John Kenneth Galbraith

O que significa vencer ou ser derrotado numa guerra contra o terrorismo? Será que uma guerra deste tipo terá fim? Será que somos capazes de perceber como será vitória e de a reconhecer quando ela chegar? 

A noção tradicional de se vencer uma guerra é bastante clara: derrotar o inimigo no campo de batalha e forçá-lo a aceitar os termos políticos. Mas a luta contra o terrorismo é uma nova forma de guerra. O derrube do regime talibã no Afeganistão, ou a derrota de Saddam Hussein no Iraque, não acabaram com o terrorismo. Pelo contrário, essas intervenções geraram no mundo islâmico reacções muito violentas e um crescente apoio aos sectores mais extremistas. A base de apoio dos grupos terroristas também parece ter aumentado, em particular nas zonas de conflito bélico, sendo actualmente o Iraque, o Afeganistão e a Palestina, grandes bases de recrutamento da Al-Qaeda e de outras organizações terroristas islâmicas. 

Estas questões colocadas por Philip H. Gordon na Foreign Affairs são extremamente pertinentes, e na opinião de Gordon, têm sucessivamente estado ausentes, das grandes discussões que têm sido travadas desde que George W. Bush, menos de 12 horas após o ataque da Al-Qaeda no 11 de Setembro, declarou a “guerra contra o terror”.

O problema, é que nenhuma guerra pode ser ganha, sem se saber qual é o seu objectivo. Reconhecer apenas que a guerra contra o terrorismo é uma nova e, completamente diferente forma de guerra, é manifestamente insuficiente. Do ponto de vista militar, as intervenções no Afeganistão e no Iraque foram extremamente bem sucedidas, no entanto do ponto de vista político, a opinião generalizada é de que foram um enorme fracasso. Estrategicamente os Estados Unidos falharam, porque os fins políticos com que se travaram estas guerras não foram bem sucedidos. 

A natureza difusa desta “nova” forma de terrorismo, reforça ainda mais a necessidade de se procurar efectivamente perceber como será a vitória sobre o terrorismo. A forma de actuação altamente descentralizada da Al-Qaeda, mostra que o elemento unificador das diversas células que a compõem é a ideologia, por isso a vitória sobre o terrorismo nunca se processará pela forma convencional, com líderes de países hostis a aceitarem os termos impostos pelos americanos, ou pela captura ou morte de líderes terroristas mas sim, com a erosão da ideologia que suporta esses grupos.

O vigoroso debate que se travou nos Estados Unidos logo após o 11 de Setembro, sobre como vencer o terrorismo, criou grandes divisões. A administração Bush e os seus mais acérrimos apoiantes, defendiam a necessidade dos Estados Unidos adoptarem uma postura ofensiva, intervindo militarmente, promovendo a democracia no Médio-Oriente e reforçando os poderes do presidente em tempo de guerra. Por outro lado, os críticos desta posição, em grande parte, aceitavam o recurso ao uso da força em certos casos, mas defendiam que a postura dos Estados Unidos devia antes de mais, passar por um restabelecimento da sua autoridade moral, reforçando a sua aposta na diplomacia e na cooperação com os aliados chave. Os detractores da política de Bush, argumentavam ainda que a opção belicista serviria apenas para criar ainda mais terroristas e reforçar a base de apoio da Al-Qaeda nos países islâmicos.

Faltou no entanto, neste debate uma discussão sobre como na verdade será uma vitória na “guerra contra o terror”. Que tipo de vitória teremos. Sem se perceber isto, dificilmente se perceberá quando é que este combate está a ser ganho ou a ser perdido. A guerra contra o terrorismo terá como todas as guerras um fim, porque os factores que conduzem as relações internacionais são tão voláteis, que nenhum sistema politico ou conflito dura para sempre. No entanto esse desfecho é ainda imprevisível, e está provavelmente ainda muito longe de acontecer, por isso importa não subestimar a ameaça do “terror”.

Política, dizia John Kenneth Galbraith, é arte de escolher entre o desagradável e o desastroso. O grande problema para a administração norte-americana na “guerra contra o terror”, empreendida nos pós 11 de Setembro, é que na sequência das desastrosas opções estratégicas, se tornou cada vez mais difícil distinguir se a decisão política é, desagradável ou desastrosa. O terrorismo islâmico de natureza global, é um problema novo que não pode ser combatido com mecanismos convencionais. Perceber a natureza do terrorismo e como se pode ser vencido, não tornará as decisões políticas dos norte-americanos fáceis, mas usando a expressão de Galbraith, será pelo menos claro quando a opção é apenas desagradável ou simplesmente desastrosa. E isto fará toda a diferença. 

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